sexta-feira, 10 de junho de 2011

ELOGIE DO JEITO CERTO

Por Marcos Meier
 
Recentemente um grupo de crianças pequenas passou por um teste muito interessante. Psicólogos propuseram uma tarefa de média dificuldade, mas que as crianças executariam sem grandes problemas. Todas conseguiram terminar a tarefa depois de certo tempo.
Em seguida, foram divididas em dois grupos. O grupo A foi elogiado quanto à inteligência. “Uau, como você é inteligente!”, “Que esperta que você é!”, “Menino, que orgulho de ver o quanto você é genial!” … e outros elogios à capacidade de cada criança. 
O grupo B foi elogiado quanto ao esforço. “Menina, gostei de ver o quanto você se dedicou na tarefa!”, “Menino, que legal ter visto seu esforço!”, “Uau, que persistência você mostrou. Tentou, tentou, até conseguir, muito bem!” … e outros elogios relacionados ao trabalho realizado e não à criança em si.
 Depois dessa fase, uma nova tarefa de dificuldade equivalente à primeira foi proposta aos dois grupos de crianças.   Elas não eram obrigadas a cumprir a tarefa, podiam escolher se queriam ou não, sem qualquer tipo de consequência. As respostas das crianças surpreenderam. A grande maioria das crianças do grupo A simplesmente recusou a segunda tarefa.  As crianças não queriam nem tentar. Por outro lado, quase todas as crianças do grupo B aceitaram tentar. Não recusaram a nova tarefa.
A explicação é simples e nos ajuda a compreender como elogiar nossos filhos e nossos alunos.  O ser humano foge de experiências que possam ser desagradáveis. As crianças “inteligentes” não querem o sentimento de frustração de não conseguir realizar uma tarefa, pois isso pode modificar a imagem que os adultos têm delas. “Se eu não conseguir, eles não vão mais dizer que sou inteligente”.
As “esforçadas” não ficam com medo de tentar, pois mesmo que não consigam é o esforço que será elogiado. Nós sabemos de muitos casos de jovens considerados inteligentes não passarem no vestibular, enquanto aqueles jovens “médios” obterem a vitória. Os inteligentes confiaram demais em sua capacidade e deixaram de se preparar adequadamente. Os outros sabiam que se não tivessem um excelente preparo não seriam aprovados e, justamente por isso, estudaram mais, resolveram mais exercícios, leram e se aprofundaram melhor em cada uma das disciplinas.
No entanto, isso não é tudo. Além dos conteúdos escolares, nossos filhos precisam aprender valores, princípios e ética. Precisam respeitar as diferenças, lutar contra o preconceito, adquirir hábitos saudáveis e construir amizades sólidas. Não se consegue nada disso por meio de elogios frágeis, focados no ego de cada um.
É preciso que sejam incentivados constantemente a agir assim. Isso se faz com elogios, feedbacks e incentivos ao comportamento esperado. Nossos filhos precisam ouvir frases como: “Que bom que você o ajudou, você tem um bom coração”, “parabéns meu filho por ter dito a verdade apesar de estar com medo… você é ético”, “filha, fiquei orgulhoso de você ter dado atenção àquela menina nova ao invés de tê-la excluído como algumas colegas fizeram… você é solidária”, “isso mesmo filho, deixar seu primo brincar com seu videogame foi muito legal, você é um bom amigo”.
 Elogios desse tipo estão fundamentados em ações reais e reforçam o comportamento da criança que tenderá a repeti-los. Isso não é “tática” paterna, é incentivo real. Por outro lado, elogiar superficialidades é uma tendência atual. “Que linda você é, amor”, “acho você muito esperto meu filho”, “Como você é charmoso”, “que cabelo lindo”, “seus olhos são tão bonitos”. Elogios como esses não estão baseados em fatos, nem em comportamentos, nem em atitudes. São apenas impressões e interpretações dos adultos. Em breve, crianças como essas estarão fazendo chantagens emocionais, birras, manhas e “charminhos”. Quando adultos, não terão desenvolvido resistência à frustração e a fragilidade emocional estará presente. Homens e mulheres de personalidade forte e saudável são como carvalhos que crescem nas encostas de montanhas. Os ventos não os derrubam, pois cresceram na presença deles. São frondosos, copas grandes e o verde de suas folhas mostra vigor, pois se alimentaram da terra fértil.
Que nossos filhos recebam o vento e a terra adubada por nossa postura firme e carinhosa.
FONTE: Revista Galileu, janeiro de 2011
*Marcos Meier é mestre em Educação, psicólogo, professor de Matemática e especialista na teoria da Modificabilidade Estrutural Cognitiva de Reuven Feuerstein (também conhecida como Mediação da Aprendizagem) em Jerusalém, Israel.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Estudo Revela Tratamentos Psiquiátricos Desnecessários

Levantamento indica excesso de diagnóstico de transtorno de atenção e hiperatividade

Cerca de 73% das crianças submetidas a tratamento de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) não têm a doença. Estudo de instituições brasileiras e o Albert Einstein College of Medicine, dos Estados Unidos, mostrou ainda que, das quase seis mil crianças e adolescentes de 6 a 18 anos avaliadas em 18 estados brasileiros, apenas 4,4% tinham a doença. Mas 7,7% dos pais tenham afirmado que o filho tinha o diagnóstico.

Segundo o diretor do Instituto Glia de Pesquisa em Neurociência, Marco Arruda, que participou do estado, a pesquisa constatou que nas classes A e B há excesso de diagnósticos errados. A consequência, explica, são muitos tratamentos sem necessidade.

Já na população pobre acontece o contrário. “Apenas 12% das crianças das classes D e E que sofrem o transtorno têm tratamento. Dessas, 60% das que têm a doença, segundo questionário aplicado, nunca foram diagnosticadas”, afirma Marco Arruda.

Dificuldade
O chefe da psiquiatria da infância e da adolescência da Santa Casa de Misericórdia no Rio de Janeiro, Fábio Barbirato, debita o excesso de diganóstico à dificuldade do diagnóstico. Ele explica que o procedimento é clínico.

Como não há exame laboratorial para identificar a doença, ele destaca a necessidade de profissionais especializados e qualificados para dar o diagnóstico preciso. “Impaciência e distração, por exemplo, são sintomas que podem ser vistos em outras situações e podem causar confusão”.

Fábio Barbirato conta que o TDAH deve ser descartado se for constatado qualquer outro transtorno que cause hiperatividade e desatenção. Ele cita como exemplos a depressão e ansiedade.

Por isso, especialistas afirmam que é preciso preparar pais e professores para identificar problemas de saúde mental infantil. “Eles devem ficar atentos à piora no desempenho escolar e na vida social”, recomenda Arruda, que sugere que a confiabilidade do médico seja conferida pelos pais.

No site da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (www.tdah.org.br) é possível ver quadro clínico.


Como identificar

Procure um médico se quatro ou mais destes sintomas prejudicarem a rotina diária da criança.

1. Dificuldade de manter atenção em tarefas ou brincadeiras longas.
2. Dificuldade para organizar tarefas e atividades.
3. Esquece de realizar a atividades diárias e os deveres de casa.
4. Esquece com frequência material escolar, mochila e até brinquedos.
5. Agitado ou inquieto: não fica parado ou sentado por muito tempo.
6. Fala demais.
7. Dificuldade para leitura e escrita. Além disso, mistura assuntos e não conclui nenhum deles em suas abordagens.
8. Distrai-se facilmente.
9. Comete erros por falta de atenção.
10. Impulsivo, podendo ser agressivo.
11. Desempenho inferior ao esperado para sua capacidade intelectual.
12. Age como se estivesse “a todo o vapor”.
13. Parece não escutar quando lhe falam diretamente.
14. É irrequieto com mãos e pés. Mexe-se muito.
15. Não consegue esperar por sua vez.


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